Leilões de infraestrutura do ano prometem ao menos R$ 100 bi em investimentos
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(Foto: Divulgação) |
Passado o primeiro ano de susto da pandemia, a agenda de
privatizações, concessões e parcerias público-privadas (PPPs) de infraestrutura
do país parece ter saído da geladeira e teve dias bastante movimentados nos
últimos meses. Em abril, foram seis sessões, com limitação ao número de
presentes, realizadas na B3, a bolsa de valores de São Paulo –mais de uma por
semana.
Entre os que já foram realizados e os que já estão com edital
avançado para acontecer ainda neste ano, serão R$ 101,5 bilhões contratados em
investimentos, de acordo com levantamento feito pelo CNN Brasil Business com
base nos principais leilões federais e estaduais realizados ou previstos ainda
para este ano.
Os valores devem ser aplicados em manutenção, melhorias e
expansões pelos próximos 20 a 30 anos, tempo de contrato da maioria das
concessões.
Os investimentos são definidos nos editais e exigidos das
empresas que arrematam os ativos, como contrapartida pelo direito de explorar
os lucros que geram ao longo do tempo. Como fazem parte do contrato, podem
valer o cancelamento da concessão caso não sejam cumpridos.
Aeroportos, trilhos e rodovias
Só na “Infra week”, nome que ganhou a bateria de leilões do
governo federal realizada entre 7 e 9 de abril, foram 28 empreendimentos
públicos repassados de uma vez à gestão da iniciativa privada.
Eles incluíam um trecho da Ferrovia de Integração
Oeste-Leste (Fiol), cuja construção se arrasta desde 2011 e que deve levar
minério de ferro do interior da Bahia ao porto de Ilhéus; cinco terminais
portuários, no Porto de Itaqui (MA) e de Pelotas (RS), e 22 aeroportos,
entre eles os de Curitiba, Manaus, São Luís e Boa Vista.
Em 29 de abril, também do governo federal, foram concedidos
850,7 quilômetros entre Tocantins e Goiás das rodovias BR 153, 080 e 414.
Duplicação das pistas, faixas adicionais, vias marginais e
iluminação e passarelas de pedestres nas áreas urbanas estão entre os projetos
exigidos da Ecorodovias e GLP, as novas donas, nos R$ 14 bilhões de
investimentos previstos no edital do lote, um dos valores mais altos dentre os
projetos deste ano. Ajudarão a pagar por eles as nove praças de pedágio que
serão instaladas, a um custo médio de R$ 10,21 para cada 100 quilômetros.
Trens, água e esgoto
Nos destaques estaduais, o governo de São Paulo passou pela
primeira vez à iniciativa privada trechos de sua malha de trens urbanos, a
CPTM, com a concessão das linhas 8 e 9, que cortam a região metropolitana
da capital.
O Rio de Janeiro, por sua vez, conseguiu, depois de anos de
aspiração, se desfazer da Cedae, a estatal de saneamento do estado que
há anos enfrenta dificuldades financeiras. A empreitada foi considerada uma das
maiores concessões de infraestrutura do país desde as privatizações do sistema
de telecomunicações dos anos 1990.
Concorrência difusa
Algumas dessas rodadas não tiveram concorrência e saíram por
um valor baixo, caso da Fiol, que foi arrematada pelo lance mínimo dado
pela única interessada, a Bamin, justamente a mineradora que produz na região e
usa a rota da ferrovia. Um dos blocos em que foi divida a Cedae sequer
recebeu propostas, e, por ora, volta ao estado para ser leiloado novamente
depois.
Outras rodadas, por sua vez, tiveram brigas aquecidas entre
várias empresas, a aquisição disputada lance a lance nos microfones da bolsa de
valores e ágios que chegaram a passar dos 9.000% --caso de um dos blocos dos
aeroportos arrematados pela CCR durante a infra week. Na análise dos
especialistas, tinha recebido um preço inicial do governo generosamente
baixo.
Em todos os leilões, foi usado o modelo de outorgas, ou seja,
as empresas têm que pagar um bônus ao governo para levar o trecho. Os editais
estabelecem o valor mínimo da outorga e vence quem der o lance maior. Só em
outorgas, foram levantados R$ 27,6 bilhões, dinheiro que entra diretamente no
caixa dos governos e reforça a arrecadação do ano.
Novas rodovias agendadas
Juntos, os leilões de abril contrataram de suas novas
concessionárias R$ 27,3 bilhões em investimentos futuros. Os R$ 74,2 bilhões
restantes da conta total de R$ 101 bilhões vêm das cinco rodovias federais que
o governo já tem na agenda para conceder no segundo semestre, de acordo com
informações do Ministério da Infraestrutura.
Entre elas, está um dos filés das privatizações: os 402
quilômetros da Rodovia Presidente Dutra (BR 116) que ligam São Paulo ao Rio de
Janeiro. A Dutra foi a primeira rodovia do país concedida à inciativa privada,
em 1996, e vem sob o comando da NovaDutra, consórcio da CCR, desde então. Após
os 25 anos previstos de vida, o contrato acaba neste ano e será levado de novo
a mercado na próxima leva de leilões.
O plano repetido em todas as entrevistas pelo ministro da
Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, é passar para a iniciativa privada um
total de 50 ativos só neste ano, calculados para gerar R$ 130 bilhões em
investimentos, considerados apenas empreendimentos federais.
(*) com informações da CNN.
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