Em meio à crise em reservatórios, setor elétrico faz pente-fino em térmicas
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(Foto: Divulgação/Paulo Whitaker) |
Com o volume escasso de água nos principais reservatórios do
país, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) decidiu fazer uma varredura
em cada usina térmica instalada e em operação, para saber exatamente com o que
poderá contar, a fim de afastar riscos de apagão e racionamento de energia.
Na segunda-feira, 24, a diretoria do ONS, que é o órgão
responsável por fazer a gestão diária do abastecimento elétrico nacional,
disparou um documento a 40 empresas do setor elétrico que possuem usinas
térmicas movidas a gás, óleo diesel, biomassa e carvão. Na lista estão empresas
como Petrobras, Engie e Neoenergia, além das estatais do Grupo Eletrobras.
No documento, ao qual a reportagem teve acesso, o ONS pede
que, até a próxima segunda-feira, dia 31, cada empresa informe detalhadamente,
quais são as usinas térmicas que cada empresa possui, com detalhamento semanal
ou diário de seus cronogramas de manutenção e operação previstos até dezembro
de 2021.
"Considerando o final do período chuvoso nas principais
bacias integrantes do SIN (Sistema Interligado Nacional) e os baixos níveis de
armazenamento alcançados nos principais reservatórios de regularização, torna-se
imprescindível a maximização da disponibilidade de geração térmica para
garantir o atendimento eletroenergético", afirma a diretoria do ONS, no
documento.
No último período chuvoso, iniciado no fim de novembro e
encerrado em abril, as águas podem ter caído em bom volume sobre muitos centros
urbanos, mas não é isso o que se viu nas principais cabeceiras de rios do país.
Se há ocorrência de água abundante nessas áreas, todo o sistema hidrelétrico
passa a ser irrigado.
Quando as chuvas nessas localidades não ocorrem, porém, as
usinas rio abaixo ficam prejudicadas. No documento enviado às empresas, o ONS
alerta que, considerando o potencial de geração de energia hidrelétrica
acumulado entre setembro de 2020 e maio deste ano, esta "configurou-se como
a pior condição hidrológica" de todo o histórico de vazões em 91 anos de
medição (1931/2021).
Segurança energética
A necessidade de o país recorrer às suas usinas térmicas para
garantir o abastecimento elétrico deve-se à possibilidade de garantir um volume
específico de geração, diferentemente do que acontece com as demais fontes do
país.
Usinas hidrelétricas, eólicas e solares dependem,
fundamentalmente, de condições naturais para gerar energia. Se não há água,
vento e sol, não tem geração. Acrescenta-se a isso o fato de que a energia deve
ser consumida no momento em que é gerada, ou seja, não pode ser armazenada para
ser usada em outro momento.
Com as térmicas, porém, é possível gerenciar o volume e o
tempo de produção. O preço dessa energia, no entanto, é bem mais caro que as
demais, além de serem mais poluentes. O Brasil conta hoje com 3.180 usinas
térmicas em operação, que respondem por 25% de toda a potência instalada de
geração de energia do país.
Diariamente, o ONS define o que deve ser acionado e aquilo que
não será utilizado. Atualmente, a ordem é colocar as térmicas a plena carga e é
isso o que tem ocorrido. Na quinta-feira, 27, por exemplo, 21% de toda a
energia consumida no Brasil foi gerada por usinas térmicas, cujo funcionamento
básico se baseia no aquecimento de água e produção de vapor, um processo que
impulsiona a turbina e gera energia.
Nesta sexta-feira, 28, conforme anteciparam o jornal O Estado
de S. Paulo e o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo
Estado) o governo publicou um alerta de emergência hídrica para o período de
junho a setembro em cinco Estados brasileiros: Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso
do Sul, São Paulo e Paraná.
Todas as unidades da federação atingidas estão na bacia do Rio
Paraná, polo de produção agropecuária e de grandes hidrelétricas. Na região a
situação é classificada como "severa" e a previsão é de pouco volume
de chuvas para o período. É o primeiro alerta dessa natureza em 111 anos de
serviços meteorológicos do país.
(*) Com informações da CNN.
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