Arte como resistência: Fredd Lima encena “A Noite Antes da Floresta”
Do dramaturgo francês Bernard-Marie Koltès, a peça “A Noite Antes da Floresta” ganha uma montagem protagonizada pelo ator Fredd Lima. Com todos os protocolos de segurança por conta da pandemia, a encenação, filmada em Parintins (distante 396 km de Manaus) e na capital amazonense, terá transmissão pelas redes sociais do artista.
Em “A Noite Antes da Florestas” dois personagens, estrangeiros e marginalizados, buscam um quarto para passar uma noite chuvosa. Um dos personagens, operário, também busca afeto e atenção de alguém para dialogar sobre sua ideia de uma construção social, uma utopia baseada num sindicato internacional. Ao se deparar com um possível aliado, suas lembranças do passado aparecem em um desatino, suas histórias e aventuras nos relatam o receio da solidão e de sua própria mortalidade. O personagem também relata suas angústias, lutas que em surto psíquico explodem num ato desesperado ao perceber o que há por trás da floresta, por onde andou por tanto tempo.
A sinopse acima, em tempos de polarização política, pode causar reações diversas no público, principalmente de quem quer dissociar o fazer arte do fazer política, coisas que não assustam Fredd. “Não me interesso pela opinião de pessoas que acham que arte e política não devem se misturar. Penso que deve e é preciso em um momento como esse. Foi com arte que os movimentos políticos revolucionários criaram potência. A dramaturgia de Bernard-Marie Koltès é um símbolo disso”, dispara o artista.
Ainda assim, Fredd acredita em boas reações do público e isso sempre vai ser importante. “É um reflexo do que a minha performance causa. Se reverberar de diferentes formas, ficarei feliz. Sinal que o público pensou. Que a peça atravessou”, disse.
Seria mais fácil apresentar a peça de forma presencial (pensando em custos), comenta Fredd. “A arte sofreu os primeiros cortes com essa pandemia... como se fosse a menos necessária. Mas, vimos no ano de 2020 que não podemos viver sem arte. Todo mundo recorreu a um cantor, uma live ,uma peça de teatro online, a uma música. Muitas pessoas descobriram talentos para não surtar quando estavam presas nas suas casas. Isso criou uma nova linguagem, um novo público”, afirma.
Novo formato para o teatro
Encenar “A Noite Antes da Floresta” respeitando os decretos de prevenção ao Coronavírus são prioridade para Fredd Lima. “Minha responsabilidade com o meu público é a mesma com a qual tenho o prazer de me apresentar para eles. É difícil um artista formar um público, pela competição, indústria e etc. E se eu não cuidar deles, estaria indo contra meus princípios. Amo cada ouvinte , cada espectador, cada seguidor e quero que todos fiquem bem”, assegura o ator.
Ser no formato digital, requer uma nova linguagem, novos custos, uma nova proposta.
O fato de a montagem ser feita sem público e para transmissão online não deu refresco para a equipe que atua como no formato tradicional. “A cobrança é a mesma, em alguns aspectos até maior pois há uma demanda cinematográfica. Logo, outros profissionais. A equipe foi escolhida a dedo por mim. Trabalho com o Damata Coletivo Artístico que está realizando a montagem. O coletivo Headbutt é responsável pela edição e coloração, e essa será nossas segunda parceria. Já trabalhamos com eles na 2a edição do Festival Art in Process edição música realizado no Rio de Janeiro. A direção e produção é assinada por Rosa Malagueta, atriz muito especial pra mim. O projeto ganhou força com apoio de parceiros como Michel Guerrero, Idris Bahia que me ajuda na pesquisa corporal e Jefferson Mariano que compõe uma trilha comigo. Em Parintins, estamos movimentando a economia, mesmo que com muito esforço, contratando prestadores de serviço e também estamos contando com o apoio da Secretaria de Cultura do Município”, elenca Lima.
A princípio, a produção havia pensado em locações ao ar livre na fase Parintins do projeto, o que foi dificultado por vários motivos, entre eles o distanciamento imposto pelos protocolos de segurança. “A secretaria está providenciando um espaço fechado para a realização da gravação lá. Mas, surgiu uma reflexão de fazer onde é realizado o festival dos bois. Ainda em diálogo”, comenta. Em Manaus, a gravação será realizada no Teatro Amazonas.
Arte e resistência
“Quero ressaltar meu carinho e agradecimento a Silvia Fernandes, tradutora do texto, que com tanta gentileza nos presenteou com essa obra. Agradecer ao Bayard Tonelli, do Dzi Croquettes, que fez parte dessa construção. Também quero dizer a todos os artistas: Vamos resistir, só por hoje. Um dia nossos dias de glória vão chegar!", finalizou Fredd.
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