Proibição de viagens à Alemanha cria impasse para brasileiros
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| (Foto: Divulgação) |
Nos primeiros dias de março de 2020, Caroline Maia foi
aprovada para um estágio de 1 ano em uma multinacional de engenharia e
eletrônica na cidade de Leinfelden, na Alemanha. A estudante de administração
de Campinas, no interior de São Paulo, logo depois foi surpreendida com o
início da pandemia de Covid-19 e as restrições de viagem em todo o mundo.
Após meses de espera, o Consulado Geral da Alemanha em São
Paulo reabriu em novembro. Caroline, de 21 anos, chegou a pedir a emissão de
visto de estágio no início deste ano, mas o escritório novamente restringiu as
atividades até o fim de janeiro, data que coincidiu com a explosão de casos
da variante P.1, de Manaus.
Ela entrou novamente em contato com o consulado para
argumentar que seu caso é diferente do de uma viagem de lazer, mas não obteve
êxito. Seu passaporte está retido no órgão há cinco meses.
“Eu me sinto bem perdida, sinto que esse problema está
travando a minha vida. Não sei o que faço, se procuro emprego ou se finalizo a
faculdade. Quem me garante que isso vai dar certo?”, lamenta Caroline.
Para aceitar a oportunidade no exterior, ela se desligou do
antigo emprego em maio deste ano. Outro porém é que Caroline se forma em
dezembro de 2022, ou seja, corre o risco de perder o estágio na Alemanha, caso
a aprovação do visto fique empacada no meio do caminho.
Problema que afeta centenas
O caso de Caroline, entretanto, não é único. Ela faz parte de
um grupo no WhatsApp com mais de 100 pessoas que se encontram na mesma
situação. Desde 30 de janeiro, a Alemanha barra a entrada de qualquer
brasileiro, exceto aqueles com direito a residência fixa no país, cônjuges,
companheiros (que morem na mesma casa) e filhos menores.
Vindos de todas as partes do país, eles têm viagem programada
para trabalhar, estudar ou fazer reagrupamento familiar, por exemplo. Os
alemães entendem que viagens com essa finalidade são igualmente arriscadas,
como quem viajaria por diversão. Países europeus como Portugal e Holanda
permitem a entrada de não turistas do Brasil.
O grupo enviou duas cartas à Embaixada da Alemanha em Brasília
nas quais esclarece a importância das medidas de contenção do novo
coronavírus, mas pede a isenção da proibição de viagens a trabalho, lazer,
casamento, entre outros, com a realização de exames e quarentena de 14 dias. A
resposta, porém, permanece a mesma.
O engenheiro Artur Borges, 27 anos, desconhecia o banimento a
brasileiros quando conseguiu um emprego como desenvolvedor em uma empresa de
software de automação de sistemas, em março deste ano. Ele entra em contato com
o consulado em Brasília, cidade onde vive, ao menos uma vez por semana, mas
ainda não conseguiu marcar entrevista para tentar o visto de trabalho.
Desde então, ele vive a ansiedade de receber a aprovação das
autoridades alemãs para viajar a Munique, onde pretende se estabelecer ao lado
da noiva. O que resta para Borges é pedir aos seus chefes que aguardem a sua
chegada ainda indefinida, só que ele não sabe até quando os alemães serão
pacientes.
“Quando recebo a resposta [do consulado], é genérica. Fico de
mãos atadas. Entendo que é uma medida para proteger, mas há possibilidade de
fazer essa migração de maneira segura. Não sou turista, sou um potencial
trabalhador”, afirma.
Sem visto, sem viagem
A pesquisadora Isis de Araújo, 29 anos, que quer se matricular
em um mestrado de dois anos em políticas públicas na Universidade de Erfurt,
nem precisaria de visto para entrar no país alemão. O governo pede apenas para
que estudantes desembarquem no país com uma conta bancária bloqueada (a
Sperrkonto, um tipo específico para alunos internacionais), 10 mil euros –
equivalente ao que definem como custo de vida de um ano – e seguro-saúde.
As aulas começam no segundo semestre deste ano. Até lá, Isis,
moradora de Itaboraí (RJ), se divide em dois empregos para juntar o restante do
dinheiro que precisa para viver na Alemanha.
Em meio a indecisões, a futura mestranda mostra nervosismo ao
pensar no avanço da pandemia no Brasil e cogita até estudar on-line, num fuso
horário de cinco horas a mais em relação à Alemanha. “Não seria fácil, eu ia
ter que acordar de madrugada para estudar de manhã.”
O Metrópoles entrou em contato com o Consulado da
Alemanha em São Paulo e fez uma série de questionamentos. O cônsul Patrick
Hansen limitou-se a responder que o bloqueio de viagens aos brasileiros é feito
para impedir a circulação da cepa P.1. Viajantes de Índia e África do Sul, que
descobriram novas variantes, também estão proibidos.
Ele afirma torcer por um posterior relaxamento de medidas para
o retorno seguro de viagens. “No entanto, nossa prioridade no momento deve ser
impedir a propagação de variantes perigosas do vírus. Infelizmente, para
vencermos a pandemia em todo o mundo, essas restrições relacionadas à saúde
ainda são necessárias”, declara.

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